[Crítica] Como Treinar Seu Dragão (2025)

Nem sempre copiar e colar é ruim

Gabriel Rodrigues

7/15/20254 min read

Quinze anos após o lançamento da animação original, a DreamWorks decidiu revisitar o universo de Como Treinar o Seu Dragão com uma nova versão em live action. Em uma época marcada pela onda de remakes na indústria cinematográfica, diversos estúdios vêm relançando clássicos com atores reais, na tentativa de conquistar tanto novos espectadores quanto os fãs de longa data. No caso desta adaptação, o filme mantém-se fiel à essência da obra original, preservando o encanto e a magia do mundo habitado por dragões.

Ambientado em um cenário onde o medo do desconhecido prevalece, o longa transmite uma mensagem poderosa: a verdadeira força está em compreender, não em combater. A narrativa acompanha um jovem que escolhe um caminho diferente do seguido por sua aldeia. Enquanto os demais moradores vivem para caçar dragões, ele decide conhecê-los e demonstrar que, muitas vezes, os verdadeiros vilões são os próprios humanos.

A história se desenrola na ilha de Berk, palco principal da trama. Para esta versão, foi construída uma ambientação realista da ilha, com destaque para a excelente direção de arte. Os detalhes das construções e paisagens remetem a um mundo medieval autêntico, garantindo imersão total ao espectador. Dean DeBlois, que também dirigiu os filmes anteriores da franquia, retorna com maestria na direção e no roteiro, reafirmando seu talento ao capturar novamente o coração dos admiradores da saga. A fotografia é de alta qualidade, enquanto a trilha sonora reforça a atmosfera de aventura e contribui para uma conexão emocional com o público. A direção de DeBlois e sua equipe acerta ao equilibrar humor, emoção e ação, resultando em uma obra que honra o material de origem.

“Nem todo herói usa espada; às vezes, basta estender a mão.” Essa frase resume o espírito do protagonista, Soluço, interpretado por Mason Thames. O ator entrega uma performance envolvente, capturando com sensibilidade a coragem e a vulnerabilidade do personagem. Thames demonstra potencial para dar continuidade ao papel em eventuais sequências. Em contrapartida, Nico Parker, no papel de Astrid — interesse amoroso de Soluço — não conseguiu entregar uma atuação marcante. Apesar de ser uma atriz promissora, sua performance neste papel específico pareceu deslocada e talvez outras atrizes se encaixassem melhor na personagem. No restante do elenco, os atores foram bem escolhidos e conseguiram dar vida de forma convincente a seus personagens.

As cenas de ação chamam atenção pela qualidade visual, com efeitos impressionantes. O dragão Banguela, assim como os demais, foi recriado com um CGI impecável, preservando o carisma e o estilo encantador da animação. As sequências de voo — um dos destaques da franquia — estão bem coreografadas e mantêm a sensação de liberdade e aventura tão característica do universo original.

No fim, Como Treinar o Seu Dragão cumpre bem o que promete. É um filme claramente voltado ao público infantil e aos fãs da saga. Não pretende reinventar a história, mas sim homenageá-la — e isso ele faz com sucesso.

Aproveitando a deixa, quero falar do resto do elenco principal. Sei que o filme é protagonizado pelo Superman de David Corenswet, mas deixei para falar dele agora junto com os outros por um bom motivo. O ator encaixou muito bem no papel, transbordando para a tela todas as emoções que fazem do herói, como ele mesmo diz no final do filme, tão humano quanto todas as pessoas, mas é a interação dele com o resto do elenco que faz a roda girar. A química entre Superman/Clark Kent e Lois Lane, interpretada por Rachel Brosnahan, é simplesmente perfeita. Além disso, suas interações com a “Gangue da Justiça”, composta pelo Guy Gardner (Lanterna Verde) de Nathan Fillion, Mulher-Gavião de Isabela Merced e Sr. Incrível de Edi Gathegie, são bem divertidas, só não tanto quanto as interações com Krypto, o Supercão adorável que rouba a cena sempre que aparece.

Outros atores como Skyler Gisondo, que aqui faz o Jimmy Olsen e Anthony Carrigan, que é o Metaformo, personagem praticamente desconhecido pelo grande público, cumprem seus papeis, porém sem se destacar. E aqui entra um problema do filme, ou quase, que é a grande quantidade de personagens, algo que me preocupava bastante. Por ser um filme solo, era óbvio que não teríamos muito tempo para todo mundo – alguém com certeza sairia prejudicado. Mesmo assim, James Gunn, que não só dirigiu, como escreveu Superman, tentou ao máximo balancear suas aparições para que ficassem contextualizadas e funcionar como breves introduções para o universo que se seguirá a partir disso. E falando em universo, a obra apresenta muitos conceitos aqui de uma só vez – o puro suco das HQs da DC Comics. Isso deve agradar o público mais fiel dos quadrinhos, por mais que, para isso, Gunn sacrifique um pouco do ritmo do 2º ato, que parece desacelerar para deixar tudo preparado para o final, o que no fim das contas, não prejudica a experiência.

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